quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Irmãos do Haiti

O MARTÍRIO DE MAIQUENSON:
Nasceu no lixo,
viveu no lixo,
morreu no lixo,
foi enterrado no lixo,
Maiquenson, Anjo do lixo!


Os nossos irmãos de Waf Jèremie iniciaram bem cedo a entrar na nossa
tenda. A irmã Marcela, que cuida do ambulatório, chega às 9:00, mal a
cumprimentamos e eis que volta, caminhando lentamente na nossa direção
com uma criancinha no colo, um pequeno nenê. Ao vê-la, um arrepio
corre no nosso corpo inteiro, pensamos que seja uma criança grave, que
precisa levar com urgência para o hospital, mas quando a irmã chega
perto de nós, coloca a criança no colo do padre e diz: “morreu !”. A irmã
é médica e, com aparelho, escuta o coração... nada, a criança, que já espumava
pelo nariz, estava morta!
Era um nenê de três meses. Eu fiquei com a criança morta nos braços. A
irmã disse: “Vamos celebrar o seu enterro!” E assim fizemos, essa foi a
primeira Missa em Waf Jèremy, uma Missa de enterro corpo-presente!
Maiquenson foi para o céu, pequeno anjo inocente, caído no mundo, em
cima de um lixão, viveu seus poucos dias de vida numa barraco de lata,
debaixo de um sol que derrete as pedras, em cima do lixo e do esgoto.
Caminhamos lentamente em direção do mar, no meio do lixo, cantando
“Maria de Nazaré”, adaptada ao krèol. Caminhando e chorando. Chegamos
longe dos barracos, num lugar que é usado como latrina. O povo
conduzia tudo, o pequeno caixão era lavado em cima da cabeça de um
homem. De repente, todos pararam. Tínhamos chegado. Os homens iniciaram
a cavar a cova, com dificuldade porque o lixo não é terra normal.
É como um ninho de gato, feito de plástico, garrafas, pedaços de vidro,
sujeira... è difícil cavar. Chegando a uma profundidade de meio metro,
colocaram o caixão, como se fosse tudo normal e iniciaram a jogar terra
com lixo em cima. Nenhuma cruz foi colocada no seu túmulo: esquecido
pelos grandes desse mundo, pequenino muito amado por Deus e por nós.
Nos dias seguintes, nós fomos procurar um pedaço de madeira, fizemos
uma cruz e a colocamos no lugar, rezando junto com os pais.
Nesse lugar, a morte está a nossa frente a cada instante. Eu tenho 47
anos e Cacilda 37, nunca vimos, na nossa vida algo igual, algo tão triste,
um desespero tão grande. As cenas vivas que correm diante dos nossos
olhos nos lembram da África e da Etiópia. São dezenas de milhares de
pessoas famintas. A irmã Marcela nos confiou: “Na
minha vida de missionária, conheci a Albânia, vivi a
guerra do Kossovo, passei 5 anos na Amazônia, fiquei
no Vietnam, mas nunca encontrei um lugar igual a esse.
A irmã que estava comigo, minha companheira de
Missão a vida inteira, aqui enfartou e não agüentou,
regressou na Itália, muito confusa. A morte é nossa
companheira, nesse lugar de missão. Só os fortes agüentam
aqui!”.
Diante do pequeno Maiquenson, renovamos a nossa
escolha de consagração, vale a pena dar a única vida
que temos para esses pequeninos que Deus ama. Não
existe nada mais importante do que gastar todas as
nossas forças por eles (Mt 25, 33s).





Clique Aqui e assista o documentário "Haiti, Missão de Sangue" feito com imagens da viagem do Pe. Gianpietro e da Cacilda (da Missão Belém) ao Haiti.

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